Mortes no campo em 2021: índigenas, trabalhadores sem-terra e LGBTQI+

As vítimas fatais de conflitos no campo ao longo de 2021 são majoritariamente indígenas, principalmente Yanomamis, trabalhadores sem-terra e pessoas LGBTQIA+. Há casos, inclusive, em que a vítima faz parte de mais de um desses grupos.

Os dados foram compilados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) no relatório Conflitos no Campo no Brasil 2021, conforme divulgado em reportagens do jornal O Globo. Foram 35 homicídios, contra 20 em 2020, o que corresponde a uma alta de 75%.

O relatório completo possui informações detalhadas sobre essas mortes, destacando também os conflitos motivados pelo acesso à água.

Em 2021 foram registrados 304 conflitos pela água no Brasil envolvendo 56.135 famílias. Quando os dados nacionais são analisados, percebe-se que 30% dos conflitos pela água foram provocados por mineradoras internacionais, 19% por setores empresariais, 14% por fazendeiros, 10% pela instalação de hidrelétricas, 9% pelos entes governamentais (federal, estadual e municipal) e 8% pela atuação de garimpeiros. Para Maiana Teixeira e Talita Montezuma, autoras do documento, chama a atenção o protagonismo persistente das mineradoras como principal ator dos conflitos por água. Em relação ao perfil do conflito, 135 dos registros envolviam disputas por uso e preservação das águas, 127 se relacionavam à construção de obras como açudes e barragens e 40 deles giravam em torno da apropriação privada direta das águas, o cercamento das águas aliado à expropriação do território.

 “ Importante registrar ainda que, ao passo em que aqueles setores empresariais somados concorrem na responsabilidade direta de mais de 80% dos casos envolvendo conflitos por água, não é desprezível a participação direta ou indireta do Estado, o qual deveria garantir que a água fosse respeitada em seu imperativo legal de bem público e direito humano”, Maiana Teixeira e Talita Montezuma, na publicação.

Em relação aos principais afetados nos conflitos por água, destaca-se a predominância de comunidades tradicionais: 19% de ribeirinhos, 14% de quilombolas e 17% de povos indígenas. Segundo as autoras , ao comparar os dados do mapeamento de conflitos por água e de conflitos por terra, fica evidente que são os povos indígenas os que mais sofrem com conflitos por terra e o segundo grupo mais afetado por conflitos por água.

Em 2022, violência no campo segue intensa, os dados parciais apontam que já são 14 assassinatos por conflitos no campo (4 no Pará). Veja outros pontos em destaque no relatório:

  • Estados da Amazônia concentram 28 dos 35 assassinatos de 2021 (80%);
  • Entre as ocorrências de conflitos, duas foram massacres (morreram 3 pessoas ou mais);
  • Ao todo, 100 pessoas foram presas no ano passado, um aumento de 45% em relação a 2020. Dessas, 30, quase um terço do total, foram presas em um conflito em Rondônia;
  • Os estados com maior número de assassinatos: Rondônia, com 11; Maranhão, com 9; Roraima, Tocantins e Rio Grande do Sul, cada um com 3.

Leia as reportagens sobre o relatório no Jornal O Globo:

Indígenas isolados, trabalhadores sem-terra e LGBTQIA+: quem são as vítimas dos assassinatos no campo no Brasil

Amazônia: 356 pessoas foram assassinadas por conflitos no campo entre 2012 e 2020

Veja também:

CPT verificou aumento de conflitos no campo em 2020, diz relatório

Conflitos no campo: mais violência em 2015