Pobreza na primeira infância afeta saúde até a vida adulta, mostra estudo

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) apresentou um estudo da Universidade Federal de Pelotas, publicado na série Optimising Child and Adolescent Health, da revista The Lancet, em que evidencia que crianças das famílias de baixa renda sofrem impacto duradouro da pobreza e têm maior risco de mortalidade infantil, desnutrição crônica, atraso de desenvolvimento, baixa escolaridade e gravidez na adolescência, em comparação com crianças de famílias mais ricas em países de baixa e média renda.

A pobreza traz consigo diversas consequências para a vida das pessoas que a vivem, indicando que fatores decorrentes à sua exposição desde a primeira infância é determinante para a manutenção das desigualdades de saúde e até mesmo o desenvolvimento cognitivo. É essencial o estabelecimento de programas multissetoriais que garantam apoio social, nutricional e assistencial a crianças, adolescentes e jovens em situação de pobreza. A

Para ler a notícia na íntegra, clique aqui.

No mundo, 50% das crianças de até 5 anos estão subnutridas

Após 20 anos, O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulga em seu um novo relatório “Situação Mundial da Infância 2019: criança, alimentação e nutrição” números assustadores sobre a situação da saúde infantil no mundo: 1 a cada três crianças de até 5 anos não recebe nutrição adequada.

A fome oculta acomete metade de nossas crianças (340 milhões em todo mundo). Esta fome é definida como a falta de 1 ou mais dos 26 micronutrientes necessários para o organismo, segundo a OMS. Ela pode afetar o crescimento e o desenvolvimento físico e mental, além de alterações cognitivas, perda de massa óssea, anemia e diminuição da capacidade do sistema imunológico.

Concomitante à desnutrição, a epidemia de obesidade entre as crianças avança. Entre 200 a 2016, dobrou a proporção de obesidade entre a população de 5 a 19 anos, saltando de 10 a 20%.

A desigualdade socioeconômica intensifica os marcadores nutricionais. Por causa da pobreza e da exclusão, as crianças mais desfavorecidas enfrentam o maior risco de todas as formas de desnutrição.

O documento estima que cerca de 45% de crianças iniciam a complementação alimentar sem consumir adequadamente frutas e legumes. O aleitamento materno exclusivo até os seis meses acontece apenas entre 40% da população infantil. A recomendação feita pela OMS e pela Unicef é de aleitamento materno exclusivo até 6 meses, e continuado até pelo menos 2 anos de idade apesar da introdução alimentar.

O desenvolvimento econômico parece ter influência no consumo de fórmulas infantis em substituição ao leite materno. Países de economia emergente como Brasil, China e Turquia, as vendas desses produtos cresceram 72% entre 2000 e 2013.

No Brasil

Segundo a OMS, em relatório de 2017, apenas 38,6% dos bebês de até 5 meses são alimentados exclusivamente com leite materno.

Em 2017, o Ministério da Saúde registrou 15 mortes por dia decorrentes da desnutrição. Sugerindo o retorno do país ao mapa da fome, onde 427.551 crianças menores de 5 anos assistidas pelo programa Bolsa Família apresentavam algum grau de desnutrição.

A desnutrição crônica no país é ainda mais prevalente entre a população indígena: 28,6% destas estão desnutridas, chegando ao aterrorizante percentual de 79,3% entre a infância ianomâmis.

Desafios e caminhos

O relatório aponta como solução o investimento em políticas públicas de saúde, água, saneamento, educação e proteção social. Aqui, no Brasil, a inquietação aflige pois o principal órgão que debate os sistemas alimentares, o CONSEA foi extinto no primeiro ato do atual governo, sugerindo a falta de interesse político de combate a desnutrição, obesidade e da fome.

Leia a reportagem completa em: http://bit.ly/relatorioUNICEF

O relatório está disponível em: https://www.unicef.org/brazil/media/5566/file/Situacao_Mundial_da_Infancia_2019_ResumoExecutivo.pdf

agenda unicef

Quem defende os direitos das crianças na web?

De acordo com os dados da Unicef, cerca de um terço dos usuários de internet no mundo são crianças e os jovens são o grupo com maior presença online. A falta de conhecimento dos pais é um dos fatores que aumentam o risco em relação à população infanto-juvenil consumindo, criando e postando conteúdo na internet.

Essa também é a realidade aqui no Brasil, onde 85% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos tinham acesso à rede em 2017, segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Esse acesso acontece, em maior parte, através de um telefone celular: 44% navegaram exclusivamente dessa forma em 2017, ainda segundo dados da pesquisa, e 93% contam com esta forma de acessibilidade.

Para o professor e pesquisador de Comunicação e Práticas de Consumo da ESPM Media Lab, Luiz Peres Neto, os riscos não estão na tecnologia em si, mas nos usos que as pessoas escolhem fazer dela:

¨O grande erro é tentar encontrar uma pessoa ou instituição que tenha culpa quando acontece um problema. Não existirá. Esperam-se soluções mágicas para frear um problema quando o que existe é a ausência de diálogo em múltiplas esferas, desde o familiar até os atores políticos e as omissões interessadas de empresas.¨

O pesquisador define a rede social virtual como um fenômeno de nosso tempo e não há como dissociar o real do virtual, as novas gerações já nascem em contato com o mundo digital. O papel da família deve ser de mediador, orientando sobre os riscos e benefícios da rede, as proibições não seriam eficazes como forma de proteção:

¨Quando você limita, não dá à criança o arbítrio de que existe uma coisa que ele não pode acessar. Infância é um processo de construção de consciência e nem sempre vai ser fácil porque eles testam os limites da família e os próprios, mas não podemos nos furtar a esse papel”.

Embora a mediação parental seja fundamental, não é suficiente, segundo Thais Dantas, advogada do programa Prioridade Absoluta, do Instituto Alana, organização sem fins lucrativos que promove o direito e o desenvolvimento da criança:

¨Existem diferenças geracionais, as próprias famílias não conhecem os riscos envolvidos, existe uma disparidade de forças entre os pais e as empresas. Muitas vezes as empresas têm muito mais dados do usuário do que a família. É preciso pensar em responsabilidade compartilhada.

A advogada destaca ainda o artigo 227 da Constituição Federal que assegura prioridade no direito da criança e adolescente:

¨É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Para a advogada, é preciso discutir e responsabilizar as empresas nos possíveis impactos da exposição e do uso da internet neste público tão vulnerável.

Confira a reportagem completa em: https://bit.ly/2vsbB0W

Veja também a  divulgação da OMS de um estudo que delineou um Guia sobre atividade física, comportamento sedentário e sono para crianças com até 5 anos. O estudo desenvolvido por especialistas da Organização avalia os efeitos em crianças do sono inadequado e do tempo parado em frente a tela, que não deveria ultrapassar 1 hora/dia em sua análise final. Acesse nota deste conteúdo publicada em 24/4/19, na página da Agência Brasil: https://bit.ly/2WdYQCM