Trabalho doméstico infantil é feito, na sua maioria, por negras

Um estudo realizado em 2019 pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil mostrou que cerca de 84 mil crianças e adolescentes, com idades entre 5 a 17 anos, estavam realizando algum tipo de trabalho doméstico no país. De acordo com o estudo, que utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 85,2% das crianças e adolescentes nessas atividades eram mulheres, e 70,8% eram negras.

Para Katerina Volcov, secretária executiva do fórum, ficou evidenciado o desequilíbrio de gênero e o racismo estrutural no que tange ao trabalho infantil e doméstico, refletindo a herança colonial da escravidão do trabalho reprodutivo doméstico. Além disso, observou-se também que o trabalho doméstico infantil sem remuneração possui uma maior incidência na região norte, com cerca de 9,9% se comparado com a média nacional, que era de 1,7%.

Em comparação com os dados levantados no primeiro estudo realizado em 2016, é possível observar uma queda de 22% no número de crianças e adolescentes trabalhadores domésticos. No entanto, a pandemia de covid-19, iniciada em 2020, agravou diversos indicadores econômicos, como a insegurança alimentar e a informalidade no trabalho, possivelmente resultando em um aumento considerável do trabalho infantil nestes últimos anos.

Para as famílias em condições vulneráveis, é difícil compreender que o trabalho infantil compromete os direitos básicos à infância, interfere no aprendizado e coloca essas crianças e adolescentes em situação de riscos. Assim, o trabalho doméstico acaba sendo visto por elas como uma maneira de proporcionar melhores condições de vida para seus filhos.

“A mãe e o pai enviam a criança para uma casa de outra pessoa, para virar trabalhador doméstico infantil. A família vê aquilo como a oportunidade de ela ter uma casa, comida, banho quente”, afirma Volcov, que ressalta a necessidade de avanço nas políticas públicas voltadas à infância para a promoção de mudanças no cenário atual.

A matéria completa foi publicada pela Folha de São Paulo em 6 de out. 2022 e pode ser lida aqui.

Vacinação: desconhecimento sobre calendário influencia baixa adesão

A baixa cobertura de imunização infantil pode estar condicionada à falta de conhecimento sobre o calendário vacinal e à dificuldade de acesso aos postos de vacinação, seja por horários de funcionamento que convergem com o horário de trabalho dos responsáveis, seja pela distância do local de residência.

É o que revela o estudo “Escola: Uma aliada da vacinação infantil”, que escutou duas mil mães de crianças e adolescentes até 15 anos em todas as regiões do Brasil. De acordo com a pesquisa, pelo menos 6 em cada 10 mães ouvidas (66%) já atrasaram a vacinação dos filhos ou deixaram de imunizá-los por falta de tempo, distância entre sua casa e o local da aplicação, perda da carteirinha ou dificuldades para se lembrarem das datas das doses.

Cerca de 68% das mães se sentem confusas quanto a vacinação infantil, muitas vezes por desinformação sobre o calendário e, por isso, muita das vezes, não levam seus filhos para tomar todas as vacinas recomendadas para a faixa etária.

A percepção de risco é um dos principais fatores desmotivadores da vacinação, e se relaciona com o próprio sucesso das vacinas. Elas tanto eliminam as doenças que as pessoas se questionam para que vacinar se não convivem mais com as doenças, ou se as vacinas podem dar reações. Mas as pessoas se esquecem de que, em um cenário de alta de casos, quando se introduz a vacina e aumenta a cobertura, é a imunização que faz a doença desaparecer”

Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria


Aliadas, a baixa cobertura vacinal e a desigualdade de vacinações e de distribuição das vacinas nos municípios, corroboram para o reaparecimento de diversas doenças no território. A desigualdade se revela um fator importante para essa baixa cobertura, uma vez que as regiões Norte e Nordeste, que possuem os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), também possuem registros baixos de imunização infantil quando comparados com outras regiões do país. Demonstrando a necessidade de ações de conscientização sobre o calendário vacinal e medidas ativas para ampliação de postos nesses locais, de forma a aumentar a cobertura de imunização infantil.

O tema foi abordado em reportagem do Jornal “O Globo”, publicada em 19/04/2023.

Noam Chomsky: a falsa promessa da inteligência artificial

Embora os avanços da inteligência artificial gerem uma expectativa otimista, também são motivo de grande preocupação. O artigo “A falsa promessa do ChatGPT” publicado pela Folha de São Paulo se inicia com uma reflexão de Jorge Luis Borges: viver em um tempo de grande perigo e promessa é experimentar tanto a tragédia quanto a comédia, com a “a iminência de uma revelação” na compreensão de nós mesmo e do mundo.

Muito se profetizou sobre o momento em que as mentes mecânicas ultrapassariam os cérebros humanos não apenas quantitativamente, mas também qualitativamente. Porém, já é possível perceber que as diferenças entre essas duas ‘’mentes’’ impõem limitações importantes ao que esses programas podem fazer.

Ferramentas como o ChatGPT da OpenAI, o Bard do Google e o Sydney da Microsoft atuam, de modo geral, através da coleta de uma grande quantidade de dados, procurando padrões neles, tornando-se assim eficiente em gerar respostas estatisticamente prováveis. Enquanto isso, a mente humana se destaca procurando não inferir correlações brutas entre pontos de dados, mas criando explicações.

A mente humana não é, como o ChatGPT e seus semelhantes, uma pesada máquina estatística para encontrar padrões semelhantes, devorando centenas de terabytes de dados e extrapolando a resposta mais provável numa conversa ou a resposta mais plausível para uma pergunta científica. Pelo contrário, a mente humana é um sistema surpreendentemente eficiente e até elegante que opera com pequenas quantidades de informação; procura não inferir correlações brutas entre pontos de dados, mas criar explicações.

Além disso, é preciso destacar que a verdadeira inteligência também é capaz de pensamento moral, o que significa restringir a criatividade ilimitada de nossas mentes em um conjunto de princípios éticos que determinam o que deve e o que não deve ser. Porém, ferramentas como o ChatGPT apresentam dificuldade em encontrar o equilíbrio entre ter o poder de gerar resultados inovadores, para ser útil, e evitar conteúdo moralmente censurável, para ser aceito pela maioria de seus usuários.

Leia o artigo na íntegra para entender melhor a ameaça oferecida pela inteligência artificial.

Como a desigualdade no país afeta a vacinação?

As desigualdades socioeconômicas do Brasil impactam fortemente na taxa de vacinação, mesmo em campanhas com aplicação gratuita. Essa é a conclusão de um estudo, publicado na revista Vaccine, que analisou 389 milhões de registros de vacinação no país dos anos de 2021 e 2022 para Covid-19. Liderado pelos epidemiologistas Alexandra e Antonio Boing, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contou ainda com o sanitarista S.V. Subramanian, da Universidade Harvard, além de outras universidades.

Entre os resultados, observa-se que os municípios com pior cobertura da campanha, nos últimos dois anos de imunização para Covid-19, foram aqueles mais pobres, com menor escolaridade média, e maior população negra. Além disso, notou-se que a frequência da vacinação das mulheres era maior que a dos homens, e o grupo dos idosos – mais vulnerável ao coronavírus – se vacinou melhor que os adultos mais jovens.

Dessa maneira, os cientistas alertam que as disparidades entre locais com diferentes graus de desenvolvimento comprometem a universalidade do Programa Nacional de Imunização (PNI), presente em todas as regiões do país e que teoricamente deveria alcançar todo o público.

À medida que as doses da vacina para Covid-19 avançavam, a cobertura diminuía em praticamente todos os municípios. Ao analisar a terceira dose de reforço, foi possível perceber algumas diferenças de acordo com certos critérios. Por exemplo, ao dividir todos os municípios do país em cinco grupos usando o critério da educação, o grupo de adultos com nível de escolaridade média mais alto teve cobertura de reforço 43% melhor que o grupo no outro extremo. Entre idosos a diferença caiu para 19%.

Em relação ao critério racial, usando a mesma comparação e dividindo os municípios por “quintis” (cinco grupos de mesmo tamanho), o quintil que tinha população mais branca teve uma cobertura de reforço 24% melhor do que aqueles no quintil mais negro. Já em relação à análise por faixa de renda, os municípios no quintil mais rico se saíram 21% melhor. Quanto às diferenças entre gênero, houve taxas de cobertura superiores entre mulheres adultas quando comparadas às dos homens, variando de 118% a 25% mais altas ao longo do período analisado. 

O estudo mostrou, portanto, que o movimento antivacina e o negacionismo científico não são os únicos motivos da queda da cobertura vacinal, mas também a desigualdade.

Umas principais causas da queda da cobertura vacinal é o acesso à vacina, ou seja, o acesso ao serviço de saúde, que é muito sensível a determinantes sociais. Infelizmente o nosso país é muito desigual. O sistema deveria ser equânime, mas a desigualdade coloca os mais pobres em desvantagem

Eder Gatti, infectologista e diretor do PNI

Há ainda a questão do planejamento, que envolve administração de doses fracionadas, logística, transporte e comunicação para fazer populações chegarem até o posto de saúde para vacinação no dia certo, ou alcançá-las com postos móveis. Sobretudo em áreas rurais, isso pode ser difícil.

Clique aqui para ler a reportagem completa.

A cada 3 horas, uma mulher é vítima de violência

Relatório da Rede de Observatórios da Segurança aponta que foram registrados 3.181 ocorrências do gênero no ano passado. O estudo mapeou casos de feminicídio (inclusive de mulheres trans), agressão física e verbal, violência sexual, cárcere privado, tortura, sequestro, dano ao patrimônio e supressão de documentos das vítimas. As estatísticas abrangem os estados de Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo.

O aumento de ocorrências aconteceu em todos os estados analisados na comparação entre os dois anos. Pela primeira vez entre os locais mapeados, o Pará aparece na quinta posição do ranking, com 224 eventos de violência contra mulheres. Para os pesquisadores, no contexto da Região Amazônica, estão as desigualdades sociais e o garimpo, que agravam essas dinâmicas violentas.

O intuito do estudo é abrir um ponto para reflexão tanto para a sociedade como também para os oito estados sobre aplicação de políticas de combate à violência contra a mulher. Se o número de casos está aumentando, significa que as mulheres não estão sendo protegidas como deveriam pelo Estado.

pontua Bruna Sotero, pesquisadora e articuladora nacional da Rede de Observatórios.

Leia abaixo a reportagem completa publicada no Jornal O Globo em 7 de março de 2024.