Nova cesta básica X ultraprocessados

A nova cesta básica, decretada em março, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, priorizou os alimentos in natura e vetou a presença de alimentos ultraprocessados.

Essa mudança na tributação foi uma “grande vitória” segundo a chef de cozinha Rita Lobo – autora de diversos livros sobre receitas e apresentadora do programa Cozinha Prática, que vai ao ar no canal GNT – e a pesquisadora Ana Paula Bortoletto, professora da Faculdade de Saúde Pública da USP e integrante do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS). Elas foram entrevistadas pela jornalista Julia Duailibi no podcast “O Assunto” (ouça aqui).

Rita Lobo explicou que é preciso ter cuidado com a escolha dos alimentos, tendo em vista que a indústria de ultraprocessados está atenta ao comportamento dos consumidores e, por isso, criam e adaptam produtos de acordo com o interesse deles, mas que não necessariamente são saudáveis e continuam sendo ultraprocessados.

Já Ana Paula Bortoletto comenta sobre a nova regra de rotulagem dos alimentos, que obriga os fabricantes a colocarem alertas nos rótulos dos produtos com alto teor de açúcar, sódio e gordura saturada, e os impactos dessa mudança.

É possível escutar o podcast em diversas plataformas de áudio ou na página do G1, clicando aqui.

Como a desigualdade no país afeta a vacinação?

As desigualdades socioeconômicas do Brasil impactam fortemente na taxa de vacinação, mesmo em campanhas com aplicação gratuita. Essa é a conclusão de um estudo, publicado na revista Vaccine, que analisou 389 milhões de registros de vacinação no país dos anos de 2021 e 2022 para Covid-19. Liderado pelos epidemiologistas Alexandra e Antonio Boing, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contou ainda com o sanitarista S.V. Subramanian, da Universidade Harvard, além de outras universidades.

Entre os resultados, observa-se que os municípios com pior cobertura da campanha, nos últimos dois anos de imunização para Covid-19, foram aqueles mais pobres, com menor escolaridade média, e maior população negra. Além disso, notou-se que a frequência da vacinação das mulheres era maior que a dos homens, e o grupo dos idosos – mais vulnerável ao coronavírus – se vacinou melhor que os adultos mais jovens.

Dessa maneira, os cientistas alertam que as disparidades entre locais com diferentes graus de desenvolvimento comprometem a universalidade do Programa Nacional de Imunização (PNI), presente em todas as regiões do país e que teoricamente deveria alcançar todo o público.

À medida que as doses da vacina para Covid-19 avançavam, a cobertura diminuía em praticamente todos os municípios. Ao analisar a terceira dose de reforço, foi possível perceber algumas diferenças de acordo com certos critérios. Por exemplo, ao dividir todos os municípios do país em cinco grupos usando o critério da educação, o grupo de adultos com nível de escolaridade média mais alto teve cobertura de reforço 43% melhor que o grupo no outro extremo. Entre idosos a diferença caiu para 19%.

Em relação ao critério racial, usando a mesma comparação e dividindo os municípios por “quintis” (cinco grupos de mesmo tamanho), o quintil que tinha população mais branca teve uma cobertura de reforço 24% melhor do que aqueles no quintil mais negro. Já em relação à análise por faixa de renda, os municípios no quintil mais rico se saíram 21% melhor. Quanto às diferenças entre gênero, houve taxas de cobertura superiores entre mulheres adultas quando comparadas às dos homens, variando de 118% a 25% mais altas ao longo do período analisado. 

O estudo mostrou, portanto, que o movimento antivacina e o negacionismo científico não são os únicos motivos da queda da cobertura vacinal, mas também a desigualdade.

Umas principais causas da queda da cobertura vacinal é o acesso à vacina, ou seja, o acesso ao serviço de saúde, que é muito sensível a determinantes sociais. Infelizmente o nosso país é muito desigual. O sistema deveria ser equânime, mas a desigualdade coloca os mais pobres em desvantagem

Eder Gatti, infectologista e diretor do PNI

Há ainda a questão do planejamento, que envolve administração de doses fracionadas, logística, transporte e comunicação para fazer populações chegarem até o posto de saúde para vacinação no dia certo, ou alcançá-las com postos móveis. Sobretudo em áreas rurais, isso pode ser difícil.

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Negros relatam que precisam ir arrumados a consultas para serem bem atendidos

O racismo mostra-se presente em diferentes dimensões sociais, inclusive na saúde. De acordo com a reportagem, a população negra precisa lidar com diversas situações preconceituosas quando buscam por tratamento médico.

Exemplos são muitos. De acordo com os relatos publicados, hospitais públicos não atendem bem pessoas de comunidade, especialmente os pretos, que se preocupam em se arrumar para não irem mal-vestidas e, consequentemente, não serem destratados.

De acordo com a psicóloga Alessandra Marques, que coordena um grupo sobre maternidade na Casa de Marias, um espaço de acolhimento para mulheres pretas em situação de vulnerabilidade, são muitos os relatos de violência obstétrica, que se baseia numa ideia de que a mulher negra suporta mais dor. Tal noção mostra-se consonante com a publicação na Proceedings of the National Academy of Sciences, em 2016, de um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Virginia (EUA). Eles investigaram 222 estudantes e médicos residentes brancos e descobriram que mais de um terço deles acreditava, equivocadamente, que negros têm a pele mais espessa que os brancos e, por isso, faziam recomendações menos adequadas para tratamentos contra dor.

Para além das questões de preconceito e discriminação, há ainda a falta de profissionais negros que compreendam e atendam corretamente essa população. É o caso de dermatologistas que saibam utilizar protocolos adequados para lidar com a pedra negra, ou mesmo de dentistas que atendam a população negra, que é a que mais perde dentes ou tem doença bucal.

É preciso apontar também como situações como as descritas acima impactam na saúde mental dessa população, que pode ter quadros agravados se não tratados.

Para ler mais sobre esses relatos, acesse aqui a reportagem.

Fentanil, droga que mata 70 mil americanos ao ano, chega ao Brasil; saiba o que é e os riscos

O fentanil é um opioide sintético, criado para ser de uso hospitalar, e considerado líder entre as mortes causadas por overdose nos Estados Unidos. Em março desse ano ele foi apreendido pela primeira vez no Brasil, na cidade de Cariacica, Espírito Santo. Foram 31 frascos da droga retidas numa operação, realizada em fevereiro, pelo Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc) da Polícia Civil do estado.

A preocupação com o fentanil é devido ao fato dele ser cerca de 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais do que a morfina, de acordo com a Administração de Repressão às Drogas dos EUA. O Centro de Controle e Prevenção de doenças desse país (CDC) divulgou que no ano de 2021 houve aproximadamente 106 mil mortes por overdose no geral no país, sendo que quase 67% (71 mil) delas foram associadas ao fentanil. Em comparação, pela cocaína foram 24 mil vítimas; e pela heroína, menos de 10 mil.

Claudia Marquez Simões, coordenadora científica de Anestesiologia da Associação Paulista de Medicina (APM), explica que um dos motivos para o aumento no uso dos opioides é o acesso mais fácil, uma vez que não se trata de uma droga essencialmente ilegal e, por isso, não depende do tráfico. 

Usado de diferentes formas, como inalado, tomado em formato de comprimido, injetado, entre outras, o fentanil é recorrentemente misturado com outros opioides e outras drogas, como a cocaína. A mistura entre substâncias pode causar interações entre elas, o que é perigoso e imprevisível, aumentando as chances de desfechos letais.

A fim de evitar práticas que aumentem o risco de overdose e oferecer acesso a programas de tratamento da dependência, alguns estados americanos, como Oregon e Rhode Island, e na província canadense da Colúmbia Britânica criaram centros para o uso supervisionado ou permitiram posses de determinadas quantidades. Tais medidas fazem parte do aumento de discussões sobre a descriminalização do uso de drogas como uma medida de redução de danos.

Quanto à situação no Brasil, especialistas ainda não sabem dizer se o fentanil se disseminará da mesma forma que nos Estados Unidos. Um dos motivos apontados é a estabilidade do mercado ilegal de drogas aqui e a alta letalidade do opioide – o que eleva o risco de se perder o usuário e, consequentemente, o dinheiro pago por ele.

Para saber mais sobre o que é, para que serve e os impactos do fentanil, acesse a reportagem completa aqui.

Mais de 1,2 mil pessoas foram resgatadas de trabalho escravo em 2023

Até maio deste ano, pelo menos 1.201 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão, segundo Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). Os dados constam no Radar SIT, que é um painel de informações e estatísticas on-line sobre as inspeções do trabalho realizadas no país e mantido pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Resgates foram feitos, em 2023, em 17 das 27 unidades federativas do Brasil, sendo que 87,3% dos casos registrados estavam relacionados ao trabalho rural. Goiás é o estado com maior número de ocorrência, tendo 372 pessoas resgatadas entre início de janeiro e maio, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 296 casos. Nesse último foi descoberto que 207 trabalhadores viviam em situação degradante nas vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton, na cidade de Bento Gonçalves.

Sobre as ocorrências em áreas urbanas, 71,9% dos casos foram Minas Gerais, apresentou teve 110 pessoas resgatadas, todas de estados do Norte e do Nordeste, que estavam trabalhando na construção de uma linha de transmissão de energia em Conselheiro Pena (MG), obra de responsabilidade do Consórcio Construtor Linha Verde, formado pelas empresas Toyo Setal e Nova Participações.

Também há casos de empregadas domésticas submetidas a condições análogas à escravidão. Assim, para receber denúncias sobre esse tipo de ocorrência o governo lançou uma campanha nacional em abril por meio do Disque 100.

Até maio de 2023, os números de resgate de pessoas submetidas a situações análogas à escravidão correspondiam a metade do total em 2022, ano que apresentou maior ocorrência nos últimos dez anos.

Especialistas temem que casos cresçam frente à combinação entre a flexibilização das regras trabalhistas e o aumento da desigualdade social nos últimos anos. O procurador do MPT, Tiago Cavalcanti explicou que “Se em algum momento a gente conseguiu evoluir, no sentido de garantir um patamar de proteção às pessoas trabalhadoras, desde 2016, com a reforma trabalhista, com a uberização, com várias leis que vieram para diminuir o patamar de proteção da classe trabalhadora, a gente tem retornado a esse vazio protecionista. E os trabalhadores não têm mais um arcabouço protetivo que lhe garanta o mínimo de dignidade no trabalho”.

Para ler a reportagem na íntegra, acesse aqui.